
Rara PRANCHA de 1862 (158 anos de antiguidade) retirada da obra L’Enfer de Dante Alighieri (veja folha de justificação abaixo). Leia o texto abaixo para entender a preciosidade e a raridade deste objeto de arte antigo de mais de um e meio século e elucidar dúvidas que geralmente confundem compradores devido às informações inexatas que ocasionalmente circulam no mercado de arte.

GUSTAVE DORÉ, ILUSTRADOR, editado à partir do artigo de Valérie Sueur-Hermel sur BNF (Bibliothèque Nationale de France – http://expositions.bnf.fr/orsay-gustavedore/arret/teinte.htm). A consciência que Gustave Doré, desde cedo, formou sobre a importância de traduzir seus desenhos por gravura, levará a que ele se interesse muito pelo trabalho de preciosos colaboradores, para escolhê-los ele mesmo e ir tão longe até sugerir um método de trabalho de acordo com o dele.Esse método tornou-se aparente já em 1856, quando Michel Lévy publicou A lenda do judeu errante, que apareceu na época em que Doré desenvolveu seu plano editorial. Ele produziu doze pranchas de grande formato, colocadas fora do texto como pinturas reais, gravadas por François Rouget, Octave Jahyer e Jean Gauchard. A revolução da “gravure de teinte (gravura em tom ou gravura de interpretação)” está em andamento; Paul Lacroix não deixa de mencioná-lo no prefácio do livro. Ele destaca o trabalho particular desses novos “mestres de madeira” e destaca suas vantagens: “o uso de pranchas de buxo (buis), que ainda não havíamos adaptado a obras de tais dimensões, lhes permitiu trazer nessas páginas grandes, os melhores e mais acabados trabalhos; assim, por meio da gravura em madeira, retornavam tons e efeitos que se acreditava serem capazes de obter apenas com gravura em metal. ” Assim, esse derivado específico da gravação final em madeira, chamado “gravure de teinte” ou “gravura em tom”, em oposição à gravação em linha tradicional, se tornaria o modo de expressão preferido para Doré e seus gravadores nas obras de fólio ilustradas por ele. A gravação fac-símile, que consiste em transcrever fielmente as linhas de um desenho linear, certamente ainda é usada para vinhetas, mas para a maioria das pranchas fora do texto, é apenas uma questão de gravação de interpretação dominada pelo preocupação com modelagem e valores. Em termos mais concretos, Doré desenha, com a rapidez exigida pela abundância de pedidos, diretamente na madeira, usando com mais frequência o “lavis” (nuances de nanquim) e o guache colocados com o pincel do que o lápis e a caneta, e o deixa para o gravador interpretar uma acinzentação que desaparecerá sob os entalhes do cinzel. Graças a uma variedade de ferramentas, os valores serão traduzidos em linhas tracejadas, cruzadas ou sinuosas, sólidas e desatadas e outras linhas pontilhadas. O sucesso dessa nova técnica depende da qualidade da colaboração entre o artista e seu gravador. Na vanguarda dos profissionais eleitos por Doré, vale mencionar François Pannemaker, ajudado mais tarde por seu filho Stéphane, e principalmente Héliodore Pisan, em quem ele confiava e quem era seu melhor intérprete.

A gravura de tom (gravure de teinte), quando praticada com talento, como fez Pisan, deu origem a essas grandes pranchas imediatamente reconhecíveis pelo tom noturno e pelos poderosos efeitos do claro-escuro, fiéis ao universo fantástico e visionário de Doré e rápido em impressionar a imaginação dos leitores a ponto de fazê-los esquecer o texto que ilustram. Com a cumplicidade de seus gravadores, o ilustrador é um mestre na arte de se apropriar do poder evocativo do preto e branco, que consegue seduzir um grande público. Os suntuosos fólios impressos em papel especialmente fabricado, parecem ser colocados, como sinais exteriores de sucesso social, nas mesas dos ricos burgueses do Segundo Império, tornando-os ainda menos acessíveis. O ENFER de Dante foi vendido por 100 francos – o equivalente ao salário médio de um trabalhador ao mesmo tempo.Sagrado por Jean Adhémar “rei dos ilustradores do romantismo Segundo Império”, Gustave Doré, que se chamava “pintor nato”, encontrou na ilustração muito mais do que uma fonte confortável de renda, ele inventou outra maneira de utilizar seus preciosos pincéis. Longe da grande pintura da qual ele também era um servo zeloso, ele desenvolveu uma obra pintada em preto e branco, servida por uma técnica original, a de gravura de tom, à qual deu sua hora de glória e que, confrontada aos seus limites técnicos quanto à concorrência de processos fotomecânicos, não sobreviverá. A ironia final ou sinal de sua genialidade, são essas pinturas em madeira, das quais há pouco ou nenhum traço que, graças às virtudes da gravura, tenham contribuído mais para a reputação de Doré.

Constatações finais:
O preço de mercado de uma obra de Gustave Doré está na técnica empregada para a criação do objeto em questão e sua antiguidade. Na escala de valores, colocamos em primeiro lugar suas pinturas (que na maioria estão em museus), em segundo, seus desenhos originais em papel (em museus ou coleção de colecionadores e negociados em casas como Christies e Sotheby’s) e em terceiro lugar as PRANCHAS provenientes de edição de luxo e históricas como a do Enfer de 1862.
Portanto, não existem gravuras feitas com chapas originais, pois conforme o texto do BnF, Doré desenhava sobre placa de madeira e em seguida seu colaborador-gravador entalhava a madeira e mecanicamente as pranchas passavam a serem produzidas separadamente do processo de impressão das folhas de texto. Como é citado no artigo, estas placas de madeira são hoje inexistentes.
O que temos para investimento médio-porte, são as preciosas PRANCHAS (quando adquiridas de fontes confiáveis para se assegurar sua proveniência e antiguidade). Para simples referência, temos as reproduções das pranchas em publicações modernas como as da Dover.
Ao adquirir a PRANCHA antiga de 158 anos, o/a colecionador(a) estará adquirindo o terceiro objeto mais valioso (depois da pintura e desenho) na escala de valores das obras de Doré.

